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27 de março de 2020

Maia diz que ajuda do governo para empresas pagarem salários é ‘tímida’ e ‘não vai resolver nada’

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta sexta-feira (27) que a linha de crédito emergencial anunciada pelo governo para pequenas e médias empresas pagarem os salários por dois meses “não é ruim”, mas é “tímida” e “não vai resolver nada”. Segundo Maia, ainda faltam medidas voltadas para outros setores da sociedade.

O programa de crédito, divulgado mais cedo pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vai disponibilizar no máximo R$ 20 bilhões por mês, num período de dois meses.

O objetivo é aliviar a pressão financeira sobre as empresas durante a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.

“Acho que essa [decisão] do financiamento, que eu não acho ruim, porque, pela informação que eu tenho, a taxa de captação é a mesma do empréstimo. [Tem] uma carência, um prazo para pagar, [e] a garantia majoritária do governo, ainda é tímida – 20 bilhões por mês – não vai resolver nada”, afirmou Maia a um grupo de empresários do grupo Lide, em evento realizado por videoconferência.

Crédito anunciado

A linha de crédito anunciada é voltada para empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. Para Maia, o governo precisa pensar logo em medidas destinadas também a empresas que estão fora dessa faixa.

“Como é que faz com o resto? Porque tem empresas maiores, que também vão ter dificuldade. Tem microempresas que ficaram de fora”, afirmou.

Feito no Palácio do Planalto, o anúncio do pacote ocorre após o aumento da pressão sobre Bolsonaro para que adote medidas semelhantes às vistas em outros países para facilitar medidas como o isolamento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir o crescimento no número de doentes pela Covid-19.

Bolsonaro tem dado declarações diminuindo os riscos do coronavírus e defendendo a redução das restrições ao movimento de pessoas e a volta ao trabalho devido aos prejuízos econômicos das medidas de isolamento.

Exemplo de fora

Maia citou o exemplo de outros países que apresentaram políticas para todos os setores da sociedade.

“O que o governo deveria fazer é o que os outros países estão fazendo, a Grã-Bretanha virou completamente há 15 dias a sua política. […] Os americanos fechando agora um pacote no Congresso de 2 trilhões de dólares com políticas focadas em todos os segmentos, incluindo os mais vulneráveis, no pagamento de salário, na renda mínima, olhando os setores da economia, capital de giro, específico para o setor aéreo, [que] justamente foi primeiro a ser atingido”, afirmou.

Maia cobrou ações do governo que, na avaliação dele, são “simples” e “óbvias” e poderiam contribuir para dar mais tranquilidade à população – como a extensão do prazo para entrega do imposto de renda, previsto para ir até o fim de abril.

“O governo não conseguiu até hoje, pelo menos eu não li até hoje ainda, adiar a entrega do Imposto de Renda, que é uma coisa simples. Muitos já entregaram, não tem nenhum grande impacto porque as pessoas já tem suas documentações, mas é um gesto, é uma sinalização que passa tranquilidade pras pessoas”, afirmou.

Questionado pelos empresários sobre o que achava do afrouxamento das medidas de restrição à circulação de pessoas nas cidades, o presidente da Câmara ponderou que, para isso, são necessárias ações que garantam a integridade especialmente das pessoas que estão no grupo de risco, como os idosos.

“É claro que todos querem reduzir o isolamento, mas a gente não pode ter uma onda de abertura de isolamento que gere uma segunda onda de aprofundamento maior da crise econômica e também uma tragédia maior, principalmente na perda de vidas pelo colapso do sistema de saúde”, observou.

Ele afirmou ainda que outros países que afrouxaram o isolamento, depois, precisaram retomar a medida com resultados piores.

“A Itália fechou, liberou e a tragédia veio. Então, os exemplos que nós temos no mundo é que começar fechando, depois liberar, o impacto é pior”, disse.

“Então, eu acho que nesse momento de crise é ruim um poder atropelar o outro. Porque, como é o Poder Executivo que organiza, executa, se tentar atropelar é ruim. Agora, é fato, como eu disse aqui, [são] decisões simples, óbvias que o governo já deveria ter tomado”, acrescentou.

Na avaliação dele, se essas ações estivessem organizadas em um pacote único, seria mais fácil para dar previsibilidade ao país e aos setores da economia e, assim, evitar os conflitos entre setores que devem a manutenção do isolamento e aqueles que pedem o seu afrouxamento.

“Se estiver tudo organizado, num pacote só, eu tenho certeza que esses conflitos mais cedo mais tarde não existiriam. Porque todos estariam minimamente organizados”, afirmou.

Fonte: G1